terça-feira, 4 de novembro de 2014

Aplicativo que dá independência a deficientes visuais no cinema

28.out.2014 - Aguinaldo Pestana testa aplicativo com audiodescrição disponível para o filme "A Despedida" Reinaldo Canato/UOL

Aguinaldo Pestana, 52 anos, é deficiente visual desde 1997, quando levou um tiro durante um assalto em São Paulo. A bala, que atravessou sua cabeça, danificou seu nervo óptico e lhe tirou totalmente a visão. Depois de 17 anos, o contabilista diz ser 95% independente, graças à tecnologia. Com seu smartphone, ele consegue escolher a roupa, acertar o caminho de casa, conversar com os amigos por mensagem de texto, pagar contas, fazer compras...
Nesses 5% de dependência está a tarefa de ir ao cinema. Para entender o que está na tela, além dos diálogos dos personagens, é preciso contar com a boa vontade de quem está ao lado para descrever o contexto das cenas. "É muito difícil que a pessoa ao seu lado tenha paciência de te contar o que está se passando na tela", diz ele ao UOL. Mesmo quando há vontade do acompanhante, corre-se o rico de ouvir muitos "shius" e "psius".
O problema de Aguinaldo e de outros deficientes visuais, no entanto, está mais próximo de ser resolvido, pois já há aplicativos que permitem que a audiodescrição do filme seja baixada em smartphones e tablets antes da sessão. O UOL convidou Aguinaldo para testar o MovieReading, em uma sessão do filme brasileiro "A Despedida", de Marcelo Galvão, presente na programação da Mostra de São Paulo. O recurso ainda está em fase de testes e o filme de Galvão foi o único do evento a aderir à novidade. Disponível para as plataformas Android e iOS, o aplicativo e o áudio podem ser baixados gratuitamente.

Como funciona
Recomenda-se que o download do aplicativo e da audiodescrição do filme seja feito em casa para não depender da conexão da sala do cinema. É aconselhável ainda um teste simples de compatibilidade, que deve ser feito em frente a um computador com auto-falantes. Para a sessão, o usuário precisará de fones de ouvido com microfones. As instruções acompanham o aplicativo.
Desenvolvido na Itália, o programa tem o mesmo princípio do Shazam, que reconhece músicas gravadas e que, em alguns casos, reproduz a letra das canções. No caso do MovieReading, a audiodescrição é sincronizada à obra assim que o microfone do dispositivo reconhece o áudio do filme.

Quando fiquei cego, percebi que outros cegos deixavam de estudar por não saberem lidar com computadores e celulares. Sempre que eu posso, ajudo cegos a aproveitarem a tecnologiaAguinaldo Pestana

O narrador descreve o que é importante para cena e perceptível apenas aos olhos, como "ela acende um cigarro e se senta perto da janela", ou "ele amarra o cadarço do sapato preto e caminha até a porta". A audiodescrição não é novidade no Brasil, mas sua inclusão em sessões de cinema ainda é pouco prática. Antes do aplicativo, um narrador precisava de um espaço para narrar o filme ao vivo, com transmissão para fones de ouvidos distribuídos antes da sessão.
Avaliação do aplicativo

Aguinaldo permaneceu calado durante toda a sessão, mas reagiu assim que o letreiro subiu pela tela grande da sala 3 do Espaço Itaú, no Shopping Frei Caneca. "Decidi que ia avaliar o aplicativo de acordo com o número de perguntas que precisaria fazer para entender o filme. Não precisei fazer nenhuma", explicou ele.
Mesmo interessado em falar do aplicativo, ele também quis comentar a obra. "Eu achei o filme picante". No filme, vencedor de quatro prêmios no Festival de Gramado deste ano, Nelson Xavier vive Almirante, um homem com mais de 90 anos que decide levantar da cama e se despedir da vida e da amante, Morena (Juliana Paes).
Na mesma sessão ainda estavam outros três deficientes visuais. Entre eles, Paulo Romeu Filho, que cuida do Blog da Audiodescrição. "As pessoas que nos acompanham nas sessões – amigos, familiares – também querem prestar atenção no filme. Muitas vezes pergunto o que está acontecendo e recebo como resposta: 'peraí que já te conto'. Sem a audiodescrição, provavelmente sairia irritado do filme".

Olhos para o produtor de "A Despedida"

Como acontece com a maioria dos filmes nacionais da Mostra, a exibição de "A Despedida" contou com a presença do diretor, Marcelo Galvão, e foi encerrada com perguntas do público. Apesar da qualidade do longa, a plateia, formada por maioria vidente, fez perguntas somente sobre a eficiência e funcionamento do aplicativo.

Trabalhando com audiodescrição desde "Colegas", filme que venceu o Festival de Gramado de 2012, Galvão disse que foi atrás do recurso em função do produtor e amigo Marçal Souza, que perdeu a visão em 2007.  "Queria que o Marçal 'visse' os filmes que ele faz, mas também queríamos um jeito mais fácil de fazer isso. Em contato com o Maurício [Santana], fiquei sabendo do aplicativo e fizemos essa parceria".

Maurício Santana está à frente da Iguale, empresa que trabalha com audiodescrição desde 2008. "Além de mais prático, por não exigir estrutura da sala, o áudio do aplicativo tem mais qualidade por ser previamente gravado e não receber interferências de ruídos exteriores", disse Maurício. O projeto para "A Despedida" foi feito em parceria com Mimi Aragón e Kemi Oshiro. O aplicativo também conta com legendas acessíveis para pessoas com deficiência auditiva.
Ensinando independência

Quando Aguinaldo perdeu a visão, seus dois filhos eram pequenos --Bárbara tinha quatro anos e Bruno Rafael, um ano e meio. "Meu maior medo era ficar dependente das pessoas", diz o contabilista.

O período da adaptação foi sofrido, até porque há pouco apoio mesmo de quem está mais próximo. "Quando você fica cego, todos acham que morreu e não te chamam para mais nada".
Com mais um ponto positivo para a independência, Aguinaldo diz que vai contar a experiência para outros deficientes visuais. Aposentado, ele se dedica há três anos, por meio de um webcast, a ensinar deficientes visuais a mexerem em smartphones táteis.
"Quando fiquei cego, percebi que outros cegos deixavam de estudar por não saberem lidar com computadores e celulares. Sempre que eu posso, ajudo cegos a aproveitarem a tecnologia. Hoje, há mais de mil aplicativos que podem ajudar os cegos". Seu programa, "
Contraponto", vai ao ar todas as segundas-feiras, às 20h, e é uma iniciativa da Associação dos Ex-alunos do Instituto Benjamin Constant.

Fonte: http://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2014/10/30/uol-testa-aplicativo-que-da-independencia-a-deficientes-visuais-no-cinema.htm

AUDIÊNCIA SOBRE ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM AUTISMO

Audiência pública no Ministério Público do Estado de São Paulo
Ocorrerá nos dias de novembros 25 e 26 de novembro, no Auditório do Tribunal de Justiça - MMDC - Hilton - Ipiranga.
Inscrições até o dia 31 de outubro.

Formulário para inscrição: http://www.esmp.sp.gov.br/Esmp_Online/Formulario_AUD_PUB_2511_2014.php
Vejam detalhes na mensagem abaixo


URGENTE: AUDIÊNCIA SOBRE ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM AUTISMO

Escrevo porque vai haver uma audiência  promovido pelo Ministério Público, entre 25 e 26 de novembro, cujo tema nos é muito, muito caro: a educação inclusiva.

Farei um breve relato da situação que constrói a audiência:

Em 2001, uma juíza do MP sentenciou a Fazenda Pública do estado de São Paulo a custear integralmente os atendimentos em educação e saúde para pessoas com autismo em instituições especializadas privadas ou do terceiro setor. A justificativa, á época, residia na compreensão da juíza de que o estado não oferecia serviços públicos que fossem adequados e suficientes para esse segmento populacional.

Desde então, a família de uma pessoa com autismo, pode ter os atendimentos da pessoa com diagnóstico de autismo custeados pelo estado de São Paulo, bastando recorrer ao MP, indicando, inclusive, em que instituição deseja ser atendida. (a sentença segue anexada)

Neste ano, houve condições de a sentença ser colocada em questão pelos(as) próprios(as) operadores(as) da Justiça.

Por esse motivo, haverá uma audiência em 25 e 26 de novembro, a fim de discutir a pertinência ou não da continuidade da vigência da sentença, tanto no que concerne ao custeamento dos atendimentos educacionais, quanto os atendimentos em saúde.

Segue anexada a programação dos dois dias: 25, discutindo-se Educação; 26, discutindo-se Saúde.

Haverá falas de juízes(as); promotores(as), representantes das Secretarias Estadual e Municipal da Educação/Saúde de SP; profissionais e pesquisadores(as) da área. No dia 25, eu serei uma das pessoas a falar.

Haverá também a possibilidade de falas da pessoas da plateia, porém, é preciso inscrever-se até o dia 31 de outubro, por email, para solicitar direito à fala. As pessoas inscritas, serão divididas em áreas de representação (familiares, profissionais, etc.) e haverá sorteio de 2 ou 3 pessoas que, aí sim, poderão falar.  (email para CintiaASilva@mpsp.mp.br)

Não temos informações sobre o número de famílias que tem utilizado esse recurso, assim como não temos acesso ao valor dispendido pelo estado de São paulo em razão de tal sentença. Tampouco temos acesso à lista de instituição de educação e saúde que vêm sendo utilizadas pelas famílias. Da mesma maneira, não sabemos se, em outro estado da Federação, há sentença similar. Solicitei atis informações ao MP, hoje, e estou aguardando.

Entendo que alguns princípios fundamentais estão em jogo, os quais nomeio brevemente aqui:

geral: defendemos que as verbas públicas sejam utilizadas em políticas, programas e ações públicas, gratuitas e laicas; defendemos que o atendimento às pessoas com diagnóstico de autismo, seja na Educação, seja na Saúde, deve estar orientado por princípios de inclusão, participação social e em serviços de base comunitária; defendemos que os serviços especializados não podem se caracterizar como a única porta de entrada para a atenção à pessoa com diagnóstico de autismo e que tais serviços, mesmo sendo especializados, devem estar orientados pelo princípio da inclusão e estarem articulados aos demais serviços de base comunitária.

- em relação à educação: a política nacional é de inclusão, sendo garantido o atendimento educacional especializado; as práticas institucionais e processos formativos de profissionais devem se orientar no sentido de permitir o desenvolvimento do trabalho com toda e qualquer pessoa humana; a história nos revela que é a pressão do movimento social e o contínuo questionamento sobre o funcionamento escolar que possibilitam a produção de transformações que permitam a escolarização de segmentos populacionais tradicionalmente excluídos da escola;

- em relação à saúde: existe uma política nacional de atenção em saúde mental e existe uma política nacional de atenção à pessoa com deficiência, tais políticas integram diferentes serviços, com diferentes recursos e níveis de complexidade, bem como a articulação com as demais políticas setoriais. As práticas institucionais e a educação permanente de profissionais estão orientadas pelos princípios da participação social, da preservação de vínculos e da atenção integral.

Enfim, entendo que temos aqui uma oportunidade para, mais que discutir a sentença, debater sobre a atenção às pessoas com autismo e seus/suas familiares, buscando produzir avanços tanto por parte das diferentes políticas estaduais (que não têm se orientado pelas diretrizes nacionais), quanto por parte dos(as) familiares, posto que as contínuas experiências de discriminação fazem recrudescer a perspectiva de convivência social a partir de instituições inclusivas.

Fiquem à vontade para divulgarem a audiência, caso considerem relevante.

Espero que possam estar lá e, principalmente, inscreverem-se para solicitar direito à fala.

Abraço fraterno,

_____________________
Profa. C. Biancha Angelucci
Universidade de São Paulo - USP
Faculdade de Educação - FE
Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação - EDF
Tels:
55 11   3091 8275
55 11 99172 1257
Skype - bianchaangelucci
Av. da Universidade, 308  bl. A.  sl 214
Cidade Universitária. São Paulo/SP
CEP 05508- 040

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